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Trabalho, seres humanos e barata gigante

Foto do escritor: O Blog do ClubeO Blog do Clube

Atualizado: 14 de jun. de 2022

A Metamorfose, de Franz Kafka.


Hoje falarei sobre o famoso livro de Kafka e confesso que quando li a sinopse e vi a quantidade de páginas que o livro contêm, fiquei intrigada em saber como ocorreria o desenrolar da narrativa. Logo no começo da leitura conhecemos o personagem principal, Gregor Samsa, um caixeiro-viajante não muito satisfeito com a vida que leva mas como é o único provedor de sustento para a família, se conforma com sua situação. Em um amanhecer, acorda e se vê transformado em um inseto monstruoso (uma barata, pela minha imaginação) e precisa lidar com as consequências desse evento inexplicável. Uma das melhores passagens do livro, em minha opinião, foi quando Gregor, que se encontra deitado em sua cama após a transformação, pensa sobre como faria para justificar ao gerente da empresa (que agora se encontrava em sua casa) uma falta sem aviso prévio:


Por que Gregor estava condenado a trabalhar numa empresa em que a menor falta tornava a pessoa imediatamente suspeita dos piores delitos? Acaso todos os empregados eram, sem exceção, uma corja de vigaristas? Será que não havia entre eles um único sujeito fiel e dedicado que, se deixasse de dedicar algumas horas da manhã à empresa, ficaria com tanto remorso que não seria capaz de sair da cama? Não bastava mandar um aprendiz perguntar, caso tanta inquirição fosse necessária, o próprio gerente tinha de vir e, com isso, mostrar a toda uma família inocente que a investigação daquele assunto suspeito só podia ser confiada à inteligência do gerente?

Quantas vezes nos vemos (quase) na mesma situação? Estamos doentes, passando mal mas o que realmente nos preocupa é como faremos para ir ao trabalho, ou pior ainda, como faremos para justificar uma FALTA? Quando o trabalho começou a ser colocado acima do bem-estar do empregado? Se é que algum dia existiu situação diferente, na verdade.

Os familiares de Gregor, ao descobrirem sua metamorfose, sentem nojo e repugnância pelo ser que costumava ser seu ente querido, e antes amado agora era odiado, unicamente pela sua aparência. Até sua irmã, Grete, que no começo cultivava um sentimento de compaixão, ao longo da narrativa vai se transformando em um monstro e, juntamente com os demais, não enxerga Gregor como membro da família, mas sim como uma aberração:


– Ele tem que ir embora! – gritou a irmã. – É o único jeito, pai. O senhor precisa se desfazer da ideia de que aquilo é Gregor. Acreditar nisso, durante tanto tempo, tem sido a nossa desgraça. Como pode ser Gregor? Se fosse, há muito tempo teria percebido que seres humanos não podem viver com um bicho como aquele. E teria partido por conta própria.

Nos capítulos finais, me peguei pensando sobre como, mesmo que não queiramos aceitar, sempre estamos por aí, julgando e sendo julgados pela aparência. Mesmo que ataquemos os outros por nos julgar, nos pegamos justamente tendo o mesmo comportamento com o coleguinha. Quando nós, seres "humanos", aprenderemos o significado de humanidade e do que é realmente ser humano?



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