A resenha de hoje é sobre o livro A Morte e a Morte de Quincas Berro d'Água, de Jorge Amado.
Joaquim Soares da Cunha era um funcionário público respeitado e que vivia uma vida pacata juntamente da família mas que, aos cinquenta anos, resolve abandonar tudo e todos e viver a vida a sua maneira. Joaquim passa então a ser Quincas Berro d'Água, ilustre boêmio; e junto com essa transformação vem a primeira morte de Quincas, a moral, pois com essa atitude os familiares não veem outra saída a não ser o considerara como morto.
Certo dia, o velho Quincas é encontrado morto (desta vez, fisicamente) no seu quarto de pensão, ocorrendo então a segunda morte. Os familiares são avisados e resolvem velar o corpo ali mesmo, o vestindo com elegância e tentando assim reestabelecer um pouco de dignidade ao homem perante os parentes e demais convidados, mantendo assim as aparências.
Quando um homem morre, ele se reintegra em sua respeitabilidade a mais autêntica, mesmo tendo cometido loucuras em sua vida.
Os velhos amigos de Quincas, companheiros de bebida, vão até o velório, já meio bêbados, e decidem levá-lo para um passeio noturno, até a orla. E lá se dá a terceira e última morte, quando o defunto sobe ao leme e se atira ao mar.
– Me enterro como entender Na hora que resolver. Podem guardar seu caixão Pra melhor ocasião. Não vou deixar me prender Em cova rasa no chão.
Durante a leitura não pude deixar de lembrar, nesse contexto de "morte narrada", a morte de Brás Cubas, no livro Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis; mas além disso, a narrativa me fez pensar sobre diversas coisas e uma delas foi sobre como, pelo menos uma vez na vida, todos nós (ou a grande maioria) pensamos em fazer, se não a mesma coisa, algo parecido com o que o deveras falecido Joaquim Soares da Cunha fez, largar tudo e todos e viver a vida como bem entende e deseja; não seria o sonho de muitos ter tamanha liberdade? Mas pensando agora, caso realmente a tivéssemos, quão diferente nossa vida realmente seria? Estaríamos agora andando pelos campos de trigo de Paris, pedindo carona nas estradas desertas ou estaríamos aqui, em nossos computadores ou celulares, passando horas e horas vendo vídeos no Tiktok ou diversos episódios de uma série de uma vez só pois esse seria nosso "ideal de lazer e felicidade"?
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