Não se ouvia um berro de res perdido na caatinga.
A resenha de hoje é sobre o livro Vidas Secas, de Graciliano Ramos.
O enredo gira em torno de Fabiano, Sinhá Vitória, os dois filhos e a cachorra de nome Baleia, uma família de retirantes tentando sobreviver em meio ao sertão nordestino. É possível sentir vividamente a angústia e o sentimento de impotência dos personagens, narrados por eles em cada episódio e principalmente no episódio sobre a cachorra Baleia (vou deixar que você descubra mais sobre isso na sua própria leitura).
Tive várias indicações desse livro antes de realmente me interessar em lê-lo e apesar de Baleia estar em todas essas indicações, o que me chamou atenção não foi 100% ela, mas sim os outros integrantes e a vida que levam, que é tão distante da minha mesmo se tratando de ficção (nesse caso). Uma vida de escassez, escassez de água, alimento, esperança e igualdade.
O livro foi lançado em 1938 e ainda hoje, em 2022, não poderia ser mais atual, infelizmente. Quantas famílias não vivem nesse momento, enquanto escrevo em meu notebook com internet, em uma casa sem luz elétrica, sem comida, água potável e tão ignorados pelas autoridades. O livro também chamou minha atenção sobre como ainda existem milhares de pessoas nesse mundo que não tem acesso ao mínimo, não sabem ler, escrever (ou por vezes sabem escrever apenas o próprio nome) e por conta dessa condição são excluídos e impedidos de fazer parte da sociedade.
Os personagens têm poucos momentos de felicidade e em sua grande maioria existem apenas no mundo da imaginação, sonham com uma vida de felicidades que são tão grandes para eles e por vezes mínimas para nós, como o sonho simplista de Sinhá Vitória em ter um colchão de couro ao invés do colchão de ripas duras que divide com Fabiano.
Após altos e baixos, picos de felicidade efêmera, o livro termina no mesmo ponto onde começa, uma família de retirantes tentando sobreviver em meio ao sertão nordestino.
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